Por que fazer terapia?

Há perguntas que carregamos internamente como quem carrega uma mala – às vezes, sabemos o que há dentro, enquanto em outras vezes,

Há perguntas que carregamos internamente como quem carrega uma mala – às vezes, sabemos o que há dentro, enquanto em outras vezes, essa bagagem pesa sem que saibamos ao certo o porquê.

“Por que fazer terapia?” é uma dessas perguntas. Ela pode surgir em meio à turbulência da rotina, durante uma crise de ansiedade, após um término, ao longo de uma madrugada adentro, ou até quando tudo parece estar bem — mas sentimos que falta algo.
É uma pergunta que pode pulsar, silenciosamente, em quem está cansado de não se conhecer, com medo de se perder nos próprios pensamentos, ou até de repetir padrões que doem.

Diante disso, garanto: a terapia não é apenas um lugar para “desabafar” e “resolver problemas”. É um espaço para ser. Para olhar com cuidado para aquilo que nos atravessa, dói, confunde, angustia ou cala. Mas também para aquilo que deseja, que sonha, que ama.
Como bem pontua o Conselho Federal de Psicologia: “fazer terapia é cuidar da saúde. É um processo que promove escuta, acolhimento e transformação.” (CFP, 2021)

Num mundo em que tudo parece acelerado — respostas rápidas na palma da mão, olhares apressados e perdidos pelas ruas, diagnósticos instantaneamente autoimpostos — a terapia é um convite para desacelerar. E vale lembrar: na escuta terapêutica, não há certo ou errado. Há compreensão. Há espaço para o choro sem culpa, para o medo sem vergonha, e para a dúvida sem pressa de resposta.
Fazer terapia, portanto, é sobre entender que nossos pensamentos não são verdades absolutas. Que podemos sentir raiva sem sermos pessoas ruins. Que tristeza não é fraqueza. Que vulnerabilidade é força.

E é importante ressaltar como a psicoterapia pode ser embasada em diversas abordagens teóricas – seja por meio da Psicanálise, da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), da Terapia dos Esquemas, da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) ou de outras abordagens reconhecidas, cada linha oferece ferramentas concretas para ampliar o autoconhecimento, lidar com emoções difíceis e transformar padrões de comportamento.
Na ACT, por exemplo, aprendemos a nos relacionar de forma mais leve com nossas emoções negativas, em vez de lutar contra elas a todo custo. Nela, a ideia não é apagar o medo, mas aprender a caminhar apesar dele e com ele. Fazer escolhas alinhadas aos nossos valores, mesmo quando a dor ainda estiver presente, é mais um ensinamento dessa abordagem.

E aquele embasamento, por sua vez, não para nas abordagens: ele também se estende para o lado científico, uma vez que estudos demonstram como a psicoterapia é eficaz no tratamento de transtornos como depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, entre outros (American Psychological Association, 2012). Mais que isso: ela melhora a qualidade de vida mesmo em pessoas que não têm um diagnóstico clínico.
Quantas vezes vestimos máscaras para caber em lugares que nos apertam? Para parecermos fortes e felizes? A terapia nos convida a tirar essa máscara e a entender que, sim, podemos nos permitir fraquejar — porque isso também é força.
Com os atendimentos, você aprende a olhar para si com mais curiosidade e menos julgamento. Descobre quais são os seus valores, o que te move, o que faz sentido. Aprende a dizer “não” sem culpa e “sim” com verdade. Aprende que autocuidado não é egoísmo, mas sim responsabilidade afetiva consigo mesmo.

Se você chegou até aqui, talvez a pergunta inicial já tenha se transformado.
“Por que fazer terapia?” pode, então, virar:
E se eu me permitisse ser cuidado?
E se eu fosse escutado de verdade?
E se eu me escutasse de verdade?
E se eu me desse essa chance?
A terapia é um caminho. Não de fórmulas prontas, mas de construção. E se houver medo, que ele venha.
Pois, como escreveu Rupi Kaur:
“o que é mais forte
do que o coração humano
que se parte várias vezes
e ainda vive?”
Talvez, fazer terapia seja exatamente isso:
reconhecer as rachaduras,
acolher o que já quebrou,
e, ainda assim, escolher viver com completude.

Maria Laura Rastelli
Psicóloga em formação

Referências:
American Psychological Association. (2012). Recognition of psychotherapy effectiveness.
Conselho Federal de Psicologia. (2021). Por que fazer terapia?. Disponível em: cfp.org.br
Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (2012). Acceptance and Commitment Therapy: The Process and Practice of Mindful Change.
Kaur, R. (2017). the sun and her flowers. Andrews McMeel Publishing.

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